(Por Fernando Mendonça).
A utilização do gênero policial como um instrumento de reflexão capaz de problematizações de ordem metafísica existe em vários autores considerados canônicos dentro da arte cinematográfica. Antonioni, Godard, Hitchcock, Lang, Bresson, e tantos outros, marcaram sua obra com criações que flertavam indireta ou explicitamente com a estrutura das intrigas policiais, sempre visando horizontes maiores de indagação e questionamento do humano. Atualmente, o nome do cineasta americano David Fincher, pode ser colocado sem hesitação ao lado desses criadores no sentido de valer-se no gênero não apenas com ousadias que chamam atenção dentro da linguagem audiovisual, mas com uma postura de pensamento que faz desse tipo narrativo um meio para algo maior, como veremos aqui, pertencente ao nível do conhecimento.
Para Hegel, em sua Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817), há uma contradição intrínseca ao conhecimento, pois ele é sempre inacabado e se nega a si mesmo a cada vez que o saber é ampliado. Ao perceber que o conhecimento que se tinha de um objeto era insuficiente e imperfeito, atinge-se um novo saber. Conhecer o erro é atingir uma nova verdade. Assim, o que agora é conhecido aparece como negação do saber anterior. A verdade torna-se um processo que, sem cessar, nega a si próprio; o saber se ultrapassa constantemente. E, quando uma negação nega a si mesma, ela se torna uma nova afirmação. Todas estas afirmativas de cunho hegeliano nos conduzem ao cinema em seu gênero policial. Um filme pertencente a tal gênero tem por Continuar lendo