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Olhares sobre o olhar, a mostra

O Cineclube Dissenso expande sua agenda habitual para realizar mostra especial durante quatro tardes de julho. Entre os dias 21 e 24, de quarta a sábado, o coletivo leva ao Cinema da Fundação programa especial intitulado Olhares sobre o olhar, com seleção que inclui um total de seis filmes, entre médias e longas-metragens. O que une as produções é o resgate de questões viscerais nos debates da história do cinema: afinal, qual a matéria prima da imagem? O quanto, na produção dos filmes, tange ao homem, e como? Quais as sensibilidades em jogo no exercício de olhar?

Esta breve coleção traz um panorama de filmes feitos sobre filmes, realizadores que versam sobre realizadores, ensaios feitos para o cinema, no cinema e sobre o cinema. Reunidos entre eles, vem o francês Eric Rohmer na tentativa de desmistificar o julgamento de que os filmes dos irmãos Lumière, precursores europeus da técnica cinematográfica, são “primitivos”, preconceito carregado por vários historiadores e largamente problematizado na produção dos últimos anos. Na mesma série, Chris Marker, um dos mais emblemáticos documentaristas contemporâneos, lança olhar cauteloso sobre os processos de produção de Andrei Tarkosvky, enquanto o próprio ensaia rascunhos de si mesmo junto ao italiano Tonino Guerra.

A mostra inclui ainda exercício ensaístico do português Pedro Costa sobre o trabalho de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, o que reúne três dos mais interessantes realizadores contemporâneos, cujos trabalhos parecem retomar premissas fundamentais do cinema, resgatando o que há de mais essencial no confronto sujeito versus câmera. Para completar, na costumeira tarde de sábado, o Dissenso realiza a última sessão da mostra, em regime surpresa. A proposta é proporcionar uma experiência diferente de ir ao cinema, em que o público só descobre o título a que vai assistir na hora da exibição.

Como sempre, as sessões são gratuitas. Na sequência, acontece debate aberto na Sala João Cardoso Ayres.

SERVIÇO

Mostra Olhares sobre o olhar

De quarta (21) a sábado (24), às 14h

Cinema da Fundação

Entrada franca

Endereço: Rua Henrique Dias, 609, Derby

Informações: 3207-5000 (Fundação Joaquim Nabuco)

PROGRAMAÇÃO

21, quarta

Louis Lumière (Eric Rohmer, França, 1968)

Filme faz parte de um conjunto de obras realizadas por Eric Rohmer para a Televisão Escolar, nos anos 60. Para falar sobre os filmes dos Lumière e do começo do cinema, Rohmer convidou apenas duas pessoas: Jean Renoir, o maior cineasta francês na opinião de Rohmer e de tantos outros e Henri Langlois, o guardião da memória do cinema, inventor da cinefilia, no sentido mais nobre do termo. Nem um nem outro consideram o cinema dos Lumière “primitivo”. 66 min.

22, quinta

Um dia na vida de Andrei Tarkovsky (Chris Marker, França, 2000)

Imagens emocionantes que vão desde a visita do filho de Tarkovsky ao pai já doente, e que já não o via há cinco anos por imposição do governo russo, até cenas das filmagens de O Sacrifício, assim como de seu enterro.

Tempo de viagem (Andrei Tarkovskiy e Tonino Guerra, Itália, 1983)

Documentário co-assinado por Tarkovsky e pelo seu argumentista Tonino Guerra, precisamente sobre a sua estadia na Itália para a filmagem de Nostalgia. Num tom de bloco-notas mais ou menos intimista, os dois homens falam da sua experiência conjunta, da poética transcendental daquele filme, da relação com as paisagens italianas e também de algumas referências que marcaram o imaginário de Tarkovsky na sua formação como espectador e autor. 117 min.

23, sexta

Onde jaz o teu sorriso? (Pedro Costa, Portugal/França 2001)

Filmando Jean-Marie Straub e Danièle Huillet durante a montagem de Sicília!, Pedro Costa consegue a proeza invulgar de expor o trabalho cinematográfico como um real confronto com uma matéria tecida de imagens e sons. Feito numa óbvia e tocante cumplicidade com o casal, este documentário (saudavelmente) atípico é também um caso emblemático de utilização do video digital. 104 min.

24, sábado

Sessão surpresa

Numa sessão onde o público só conhece o filme na hora, as câmeras interrogam qual o futuro do cinema, enquanto olhares e vozes do mundo inteiro se dividem entre inquietação, desamparo, fé, desmitificação, finitude, necessidade de filmar. Eis que tudo se concentra no humano. 133 min.